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Troço 10 | Moimenta - Rio de Onor
PERFIL
- Extensão: 58.78 km
- Altitude máxima: 1059m (Percurso entre Moimenta e Mofreita)
- Altitude mínima: 599m (Rabal)
Moimenta é uma das mais interessantes aldeias da Terra Fria, numa vertente da serra da Coroa, a cerca de novecentos metros de altitude, em plena bacia de apanhamento do curso superior do Tuela.
A natureza granítica do subsolo está bem expressa na tipologia arquitetónica do edificado, caprichando as construções no recurso a tecnologias mais evoluídas e na ostentação de pormenores decorativos pouco vulgares na região. A igreja paroquial, merecidamente classificada, é o paradigma desta situação, mas muitas casas, como a dos Ataídes de Figueiredo, de carácter erudito, ou a dos Ponecas, esta mais popular e até trechos urbanos como o Largo do Calvário, a Praça do Comércio ou as Ruas do Carreiro, da Urze ou da Ponte testemunham bem a preocupação e as exigências de qualidade da população, refletindo a disponibilidade de meios e as oportunidades geradas pelas relações de fronteira.
Local remotamente povoado, conserva ainda a memória das civilizações precedentes em inúmeros vestígios que a sua ocupação nos legou – um castro fortificado no esporão da confluência da ribeira de Anta no Tuela, localmente conhecido por Cigadonha ou Cigarrosa; uma calçada de origem medieval que liga a ponte à povoação e se continua além dela; uma ponte medieval; e muitas outras construções que se sucederam no tempo até à atualidade, designadamente a turbina que forneceu energia à povoação até 1970, enquanto se aguardava a ligação à rede elétrica nacional.
Alguns empreendimentos comuns como a eira, os moinhos, os lagares, as fontes e a forja comunitária ainda se conservam como referências fundamentais da cultura popular.
Se a hora lhe convier fique para almoçar e experimente o fumeiro de Moimenta ou um prato de caça.
Se ainda tiver tempo, pergunte a alguém onde fica o Penedo dos Três Reinos, que na Idade Média marcava a fronteira entre os Reinos de Portugal, Castela e Leão e Galiza.
A saída de Moimenta faz-se descendo o Tuela entre retalhos de culturas variadas – horta, fruteiras, milho, batata, vinha e força de castanheiros, rareando as casas à medida que se progride, até que o cenário se torna de novo agreste com a escarpa nua ou coberta de matos. Passe a ponte do Couço, a montante da ponte medieval e do castro neolítico e inicie a subida da outra vertente, ganhando progressivamente excelentes panorâmicas que atingem o apogeu na cumeeira da serra da Escusaña (Redaria-1031 metros) que é fronteira internacional por espaço de três quilómetros.
Passada a casa dos Serviços Florestais atravesse a ribeira de Remosende para chegar a Mofreita . Na vertente norte, menos inclinada e por mais bem exposta, já o castanheiro se adapta, reconhecendo-se entre os soutos novos das surribas, relíquias centenárias, referências esquecidas de antigas florestações.
Mofreita é uma povoação com um edificado simples, com algumas notas esparsas de erudição barroca, sobretudo na decoração dos alizares de portas e janelas e, naturalmente, na respetiva Igreja Matriz. Curiosamente, ainda conserva os restos de um antigo mosteiro feminino há muito secularizado. Da visita a Mofreita pode levar consigo uma peça de lã tecida nos teares locais.
Valerá de novo a pena sair agora da Rota para um breve desvio a Dine, para visitar uma gruta do período calcolítico, que está classificada e que justificou mesmo a instalação de um Núcleo Interpretativo da Lorga de Dine, que assim se designa este monumento pré-histórico. Nas suas imediações poderá também apreciar um conjunto de quatro antigos fornos de cal que se conservam como memória de uma atividade – o fabrico de cal por calcinação do calcário local – que ainda subsistia há não muitos anos. Os painéis fixados no local explicam bem o seu funcionamento.
Voltando a Mofreita e retomando a Rota, a primeira povoação que surge é Zeive, com desvio para Fontes de Transbaceiro e Maçãs, povoações com a denominação de “Centro Rural de Montesinho”.
Na embocadura do acesso a Fontes de Transbaceiro, uma estranha capela, de gosto eclético e arrebicado, moldada em cimento, regista o sentimento do seu patrono com “A saudade à partida – a nostalgia à chegada”, entre 1962 e 1975.
Continue, agora em direção a Parâmio, aldeia que integra também a Rota do Baceiro, sugerida pelo Parque Natural de Montesinho. Passe pela igreja paroquial, setecentista como quase todas, mas já com alguma enfatização rococó e siga viagem.
Um açude na ponte do Parâmio, recomenda o local a quem goste de pesca. Sucedem-se depois três desvios à esquerda que o levam, cada um, a Vilarinho, a Cova de Lua e a Soutelo. No entroncamento que dá acesso a Cova de Lua encontramos o Santuário da Senhora da Hera, com capela recente a substituir a antiga, localizada não longe dali, cujas ruínas medievais estão classificadas. O Santuário, concorrido por muitos romeiros (Festa de 1 a 3 de agosto) tem um parque de merendas bem arborizado. Se subir a Cova de Lua será recebido, logo à entrada, por um conjunto de cinco pombais em ferradura, de belo efeito cénico e semelhantes a outros que viu já, dispersos em quantidade, quando atravessou o planalto mirandês. Visite a igreja, ainda quinhentista e com nártex e os empreendimentos comunitários que caracterizavam a vida social – os fornos, a forja e o lagar.
À medida que se afasta da povoação o castanheiro começa a ceder espaço ao carvalho negral, que cobre as vertentes mais ásperas do Baceiro, que o acompanha à mão direita até à portela que liga Soutelo a Carragosa e separa as bacias do Sabor e do Tuela. Começa aqui o planalto de Espinhosela, com as suas extensas centeeiras e trigais.
A indicação de “Aldeia Preservada” referida a Soutelo, sugere uma visita, em que será reconhecido o esforço de preservação.
No regresso de Soutelo siga para Carragosa. As searas desenvolvem-se em afolhamentos de pousio e a monotonia é quebrada apenas pelo coberto de castanheiros em pequenos soutos, quase todos de recente plantação.
Subindo lentamente entrará em Carragosa, anunciada já pelo anel de policultura que caracteriza todas as povoações. A Igreja Paroquial, com uma curta escadaria de acesso ao arco sineiro, a capela de Santo António e a Cruz da Memória, que evoca um assassínio perpetrado em 1928, são as principais referências deste lugar.
Tem agora ampla vista sobre o planalto e já ao fundo se vê a cidade de Bragança. Com a saída de Carragosa e a modelação, ainda que ligeira, da área planáltica, reaparece em força o carvalho negral. E neste cenário a estrada bifurca – à esquerda para Meixedo e à direita para Bragança.
Siga para Meixedo. A estrada alcança o topo do planalto recuperando a paisagem já antes conhecida de searas e castanheiros, estes maioritariamente em soutos recentes, mas conservando alguns vetustos exemplares que refletem ainda o compasso regular do plantio. As vistas continuam amplas sobre o planalto, sobretudo para o quadrante sul. Também nesta área ocorrem vestígios arqueológicos de antigas ocupações – o povoado proto-histórico e posteriormente romanizado do Cabeço do Castro (Meixedo) e o sítio de Santa Marinha (Carragosa), ao qual se associam ruínas de um templo não observável.
Meixedo é povoação muito semelhante às anteriores. Próximo, numa pequena elevação, fica o Santuário de Santa Ana, com excelente panorâmica em seu redor. Está rodeada pelos quartéis da romaria, que se realiza a 26 e 27 de julho.
De Meixedo dirija-se a Oleirinhos e continue até à estrada de Bragança, que o conduzirá a Rabal, escassos cinco ou seis quilómetros a norte da cidade.
Rabal é povoação antiga, sobre o ribeiro da Veiga, afluente do Sabor, que cresceu no sopé de um outeiro, designado Alto do Castro por aqui ter existido um povoado fortificado da Idade do Ferro. A aldeia conserva ainda boa parte do seu edificado primitivo, em alvenaria de xisto pardacento aparelhado em cal, com importação de granito nas construções de maior vulto. As coberturas em lousa ainda hoje cumprem a sua função em muitas casas habitadas, se bem que a maioria das que conservam este sistema estejam há muito abandonadas e em progressiva ruína. E outros curiosos processos construtivos tradicionais se reconhecem também no que resta das construções originais que ainda vão resistindo à tentação da modernidade.
Nota positiva para Rabal se dá também ao seu parque fluvial, num amplo espaço arborizado de grande qualidade ambiental e cénica, na margem do rio Sabor.
Mas é a montante deste parque que a Rota prossegue. Seguindo-se pela estrada nacional na direção do Portelo tem-se, no fim da povoação, a pequena capela de S. Sebastião, uma invocação tradicional consagrada na periferia de todos os aglomerados urbanos medievais que tinham neste Santo o seu advogado contra a guerra, a fome e a peste, três calamidades que as estradas conduzem. Invocação ainda hoje celebrada com a procissão que conduz a sua imagem após os festejos do orago paroquial S. Bartolomeu, a 24 e 25 de agosto.
Aqui poderá fazer um desvio até à aldeia de Montesinho, a escassos 13 Km, na direção de Portelo, para conhecer esta interessante aldeia, com várias casas bem recuperadas e com venda de artesanato e produtos regionais. É uma das aldeias mais emblemáticas e mais bem preservadas localizada a 1030m de altitude, sendo uma das aldeias mais altas de Portugal e a mais alta da serra de Montesinho.
Regressando a Rabal e passada a capela, com o seu parque de merendas, atravessa-se o Sabor numa ponte construída para garantir o acesso a Baçal. À direita, uma galeria ripícola de amieiros e choupos acompanha o Sabor até ao parque fluvial. Mas a estrada segue em frente e vence o interflúvio Sabor-Baçal percorrendo searas e pastagens, aqui e ali referenciadas por um ou outro exemplar de castanheiro de porte assinalável. Alguns sobreiros e reduzidos bosquetes de carvalho negral quebram a monotonia da paisagem e acompanham o percurso até à ribeira de Baçal, também designada por Aveleda, por atravessar esta povoação mas quatro quilómetros a montante. É num esporão desta ribeira que fica o Castro de Baçal, um povoado fortificado com uma linha de muralha e um torreão, atribuído à Idade do Ferro. Mais antigo, da Pré-História Recente, é o Povoado Fortificado das Fragas do Cabril, em cuja base se encontram indícios de pinturas rupestres, um pouco a montante, nas proximidades de Aveleda.
A estrada alcança Baçal por poente. Povoação antiga, de razoável dimensão, tem o seu nome consagrado pelo inexcedível contributo que deu à História e Cultura de Trás-os-Montes, à sua investigação, à sua compreensão e à sua divulgação, o Padre Francisco Manuel Alves (1865-1947), geralmente conhecido por Abade de Baçal. Do conjunto edificado, para além da casa onde o Abade de Baçal consagrou a vida à identificação cultural de Trásos- Montes e de um ou outro pormenor, resta apenas a igreja paroquial de S. Romão, que segue o figurino barroco comum à maior parte das igrejas desta região, valorizado com um pórtico de dois pares de colunas torsas.
Baçal fica numa das zonas menos acidentadas da região de Bragança, o que justificou, naturalmente, a localização próxima do Aeródromo. Ao sair de Baçal seguirá na vasta planície afolhada de cereal e carvalheiras até encontrar a indicação de Sacoias.
Sacoias é uma povoação a quinhentos metros da estrada, concentrada em torno de uma belíssima igreja setecentista, notável pela talha e pinturas do seu retábulo-mor. Conserva ainda a imagem tradicional, mas a sua origem terá sido quinhentos metros a nordeste, num pequeno outeiro onde, com alguma dificuldade, se reconhecem ainda alguns vestígios de um castro, provavelmente da Pré-História Recente, mas profundamente romanizado, que terá tido ocupação até à Idade Média. Nas suas imediações, foi posteriormente levantada uma capela a Nossa Senhora da Assunção. Este local, que forneceu abundante espólio cerâmico, numismático, escultórico e epigráfico, não tem atualmente visíveis as suas estruturas arqueológicas, que estão classificadas como Monumento Nacional. Apesar disto e do acesso por estrada em terra, vale a pena pela vista que dele se desfruta e que permite uma apreciação abrangente do planalto, com trigais e centeeiras a perder de vista.
Retomada a estrada nacional encontra, pouco adiante, umas alminhas e uma derivação à esquerda para Aveleda. Continue, iniciando a baixada ao rio Igrejas onde fica a povoação de Varge, num cenário já marcado por uma densificação do arvoredo. Castanheiros, carvalhos e alguns sobreiros constituem o coberto florestal das vertentes deste rio até à formação do lameiro no fundo do vale.
O rio, alargado por um açude a jusante e percorrido por galerias ripícolas de freixos, salgueiros e choupos de grande dimensão, cria um ambiente aprazível, valorizado por algum cuidado posto na conservação do edificado marginal e que se começa a sentir também no interior da povoação.
À boca da ponte, uma capela ainda com vestígios da sua fundação quinhentista, ostenta na fachada uma referência curiosa – Santo Padre Vaz. E alguns restaurantes e cafés reforçam a atração natural deste lugar.
Continue agora em direção a Rio de Onor. A estrada sobe a vertente esquerda do rio Igrejas, com um traçado menos inclinado que o da vertente oposta, com a aproximação da planura que se dilata de novo em larga extensão, mas agora coberta de mato rasteiro, de onde a onde interrompido por alguma mancha de pinhal. Sem que se perceba, o rio Igrejas corre paralelo em sentido contrário, esganado entre as Fragas do Cabril e a nascente, mais longe e fundo, o rio de Onor, que se aproxima apenas no alto de Lagares, contornando um esporão onde o que resta de um castro da Idade do Ferro dá largas à imaginação popular que o denomina Castelo dos Mouros.
Inicia-se então a descida para Rio de Onor, curso de água e povoação, com uma transformação gradual da paisagem, que se vai humanizando – carvalhos bravios, plantações de castanheiro, folhas de secadal, fruteiras, muretes e hortas que se prolongam pelo interior da povoação.
Aqui, em Rio de Onor, se conclui o décimo troço da Rota.