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Troço 3 | Constantim - Sendim
PERFIL
- Extensão: 46.62 km
- Altitude máxima: 836m (Constantim)
- Altitude mínima: 626m (Ponte sobre o Rio Fresno)
Constantim é um interessante aglomerado rural rasgado a meio por um afluente do rio Fresno, que fecunda as hortas ribeirinhas e alimenta os mananciais. Daí a quantidade de fontes e fontanários.
Visite a Igreja Matriz, de origem românica e capela da Trindade e meta-se a caminho na direção de Ifanes. Encontrará logo à saída da povoação uma derivação à esquerda para a vizinha aldeia de Moveros, além-fronteira. Por ela chegará ao Santuário da Senhora da Luz, ermida antiga, erguida sobre a linha fronteiriça e respeitada por portugueses e castelhanos. Apreciará aqui uma das mais soberbas panorâmicas da região, estendendo a vista por todo o planalto até às Serras do Montesinho, Nogueira, Bornes e Mogadouro e fechando o circuito a rechã de Zamora onde se assome timidamente a povoação espanhola de Brandilanes.
O tom avermelhado do solo nos terrenos lavrados de fresco contrasta fortemente com as searas e os milheirais que se multiplicam com a aproximação de Ifanes. Aqui encontrará referência toponímica bilingue na identificação dos povoados e dos arruamentos – o português e o mirandês, duas línguas autónomas derivadas do latim, que qualquer íncola domina com fluência.
Ifanes é uma aldeia com aspeto limpo e agradável, que tem sabido conciliar os gostos com o correr dos tempos. Foi povoada pelo Homem desde eras muito recuadas, como nos atestam as várias esculturas rupestres descritas pelo Abade de Baçal. As “Três Pegadas” como o povo as designa e a “Ferradura” são consideradas as mais significativas. Em 1211, a povoação de Ifanes foi doada por D. Sancho I aos frades do mosteiro leonês de Moreruela. Pouco tempo depois, em 1220, D. Pelayo de Moreruela, o abade deste mosteiro, deu foral à “vila de Ifanes em Portugal”. Apenas em 1545, com a criação da diocese de Miranda, Ifanes deixou de pertencer a Moreruela.
Nesta localidade é já bem percetível a transição do xisto para o granito, agora mais frequente nas travações estruturais das casas e até em alçados planos. Salientam-se algumas casas, de entre elas duas que foram fotografadas por Fernando Távora para o inventário da Ordem dos Arquitetos, nos anos 50.
Se não desviou à Senhora do Nazo quando passou em S. Martinho de Angueira pode agora fazê-lo tomando a estrada da Póvoa. É um percurso interessante, sobretudo no atravessamento do Vale do Fresno, com um encantador parque de merendas na Ponte que liga Ifanes à Póvoa.
Repare numas curiosas construções brancas de planta em ferradura e cobertura de uma água dupla, amiúde encristadas com um arremedo de ameias, que polvilham as imediações de Ifanes. São os pombais típicos desta região nordestina, que doravante encontrará, com mais ou menos profusão, em todas as povoações. Continue o itinerário.
Com a achada de Zamora em pano de fundo chega a Paradela, outra povoação muito semelhante às que viu atrás. Também aqui as casas agrícolas, com os seus pátios e portas carrais integram naturalmente a malha urbana, transpondo para o espaço público as rotinas da faina agrícola. Salienta-se que Paradela é a aldeia de Portugal onde o Sol mais cedo almeia.
A indicação de um miradouro leva-nos por um caminho em terra, por entre um souto, até à Penha das Torres sobre as arribas do Douro. No caminho encontrará o maior castanheiro do Parque Natural do Douro Internacional. Chegado ao miradouro será surpreendido por uma das mais temerárias vistas sobre o Douro. Tratando-se de um trecho dos canhões do Douro com margens menos abruptas, apresentam-se contudo muito rochosas, com carrascas e coralheiras e rompendo das brenhas. Vislumbra-se a confluência da ribeira de Castro com o rio Douro, cursos que nesta área estabelecem a fronteira entre os dois países. Imediatamente a montante da confluência, sobre o Douro, vê-se a barragem espanhola de Salto de Castro.
A partir daqui e por alguns quilómetros a Rota vai acompanhar o curso do Douro, que corre esganado entre altas arribas profundamente rasgadas na rocha viva do planalto – são os Canhões do Douro. Por estas arribas, vagueiam aves de rapina, designadamente a enorme águia-real e, no período estival, o migrante abutre-do-egito, aqui conhecido por Minhoto. O corço, o javali e o lobo, também não são raros nos canhões fluviais do Douro.
Do coroamento das abruptas falésias o panorama é verdadeiramente surpreendente, mas se conseguir num ou outro ponto baixar por sinuosa vereda até à margem do rio, terá então uma visão arrepiante, esmagadora, da força da natureza. Esta perceção da nossa insignificância perante a infinita dimensão do Universo e da sua ordem natural impressionou profundamente os nossos antepassados, que por aqui deixaram abundantes vestígios da sua presença – castros, abrigos, necrópoles, ermidas, muros, caminhos e muitas plantações dispersas aproveitando minúsculas chãs e socalcos que o fraguedo protege.
Integrada no Parque Natural do Douro Internacional e na Zona de Proteção Especial do Douro Internacional e Vale do Rio Águeda, Aldeia Nova é provavelmente o lugar da periferia da freguesia de Miranda do Douro mais conhecido pelos viajantes, devido à capela de S. João e o Castro de S. João das Arribas. Para se lá chegar, desce-se por um caminho em terra até uma capela, ereta em 1833 sobre um antigo castro da Idade do Bronze, de que se conserva ainda uma boa parte da estrutura (Monumento Nacional). Aqui, foram encontrados em prospeções arqueológicas, machados de sílex, pontas de lança em bronze e cobre, objetos de cerâmica, grãos de trigo carbonizados, pedras de moer, moedas, entre outros. Ao longo dos anos, as pedras dos seus muros foram sendo reutilizadas para surribar a encosta e construir outras casas e, nas paredes da capela, apareceu uma epígrafe honorífica de Emilius Balesus, cidadão romano que aqui morreu depois de acompanhar, como porta-bandeira, o Imperador Adriano na sua expedição a Inglaterra, para submeter os bretões, na primeira metade do Séc. II D.C..
Refeito da surpresa, ajuste-se de novo à escala e dimensão do seu quotidiano e prossiga para Miranda do Douro, uma antiga cidade aninhada no esporão da confluência do Fresno com o Douro, que merece uma visita atenta e mais demorada.
Sobre as margens montanhosas e alcantiladas do rio Douro, surge como uma sentinela atenta, observando, do outro lado do rio, a vizinha província espanhola de Castela e Leão.
Ao deixar a cidade e já que a vai contornar por poente repare na ponte gótica sobre o Fresno, no Aqueduto do Vilarinho e na Fonte dos Canos. Tome agora a estrada de Mogadouro. Vai passar por Vale de Mira e Cércio e se fizer um pequeno desvio até Duas Igrejas, poderá visitar a Capela de Nossa Senhora do Monte, a Igreja Matriz de Santa Eufémia, templo de traça românica que, no seu interior, recuperado, alberga fragmentos de interessantes frescos e um curioso conjunto de frontais de altar. A oeste de Duas Igrejas assinala-se a passagem de uma antiga Via Romana. Entretanto, com sorte, poderá ainda ter a oportunidade de assistir a uma atuação do seu Grupo de Pauliteiros, fundado há sessenta anos e um dos mais consagrados grupos folclóricos da região, que executa com magistral perfeição a famosa dança dos pauliteiros, uma exibição de filiação guerreira onde só entram homens e o pingacho e o galandum, estas alargadas a dançarinos de ambos os sexos. Na romaria da Senhora do Monte , a 15 de agosto, é mais que certa a sua atuação.
Em Duas Igrejas, é possível ao visitante retomar a Rota através da EM 602 que faz a ligação a Vila Chã da Braciosa, condicionando no entanto a passagem por Cércio e Freixiosa. Próximo de Cércio, está assinalado o maior zimbro do Parque Natural do Douro Internacional, árvore classificada. Estando em Cércio anote uma curiosidade, que achará também noutras povoações, mas que se circunscreve praticamente a esta zona do planalto mirandês – a fachada principal da igreja é totalmente cega, apresentando uma verticalidade limpa e compacta e reservando o investimento arquitetónico e decorativo para outros planos e sobretudo para o seu interior. É o caso do interessante retábulo das almas, em talha policromada, também um motivo recorrente na região.
À saída de Cércio pelo CM 1126 em direção a Freixiosa, chegando ao ribeiro de Cércio, encontram-se vestígios cerâmicos e registos epigráficos do povoado tardo-romano de Santa Marinha, que terá tido continuidade na Alta Idade Média e, à direita, existe a indicação de fonte romana, curiosa fonte de mergulho que parece ser da época romana. Do lado esquerdo, observa-se um troço lajeado da antiga estrada, vencendo o curso de água sobre um pontão e, um pouco adiante, a capela de Santa Marinha, uma pequena capela bastante peculiar, com 5 pilaretes de granito em frente à fachada, fazendo lembrar um conjunto de menires.
A estrada prossegue no planalto, entre pousios e searas, com alguns freixos e sobreiros ou pequenos pinhais. Já próximo de Freixiosa, é possível visitar, nas proximidades de Poço Picão, o Abrigo Rupestre da Fraga da Solhapa, um local pré-histórico com vestígios de arte rupestre, que está classificado como Monumento Nacional. Registe-se ainda a profusão de pombais, nas imediações de Freixiosa e destaque-se a Capela de Santo Eustáquio à entrada da localidade.
Assente num promontório do Douro, também aqui, muito próximo de Cércio se encontram vestígios de mais um povoado proto-histórico, defendido por duas linhas de muralha, conhecido por Castro de Cércio.
Ao fundo da aldeia de Freixiosa a indicação local de um parque merendeiro, à esquerda, e de um miradouro, à direita, proporcionam-lhe, um e outro, excelentes tomadas de vista para uma real apreensão do vale escarpado do Douro, que aqui corre tão encaixado na funda falésia que bem justifica o epíteto de “Canhão do Douro”.
No primeiro caso desce a abrupta vertente por um sinuoso caminho em terra até ao rio e no segundo atinge uns penhascos eriçados de carrascas e zimbro que dominam extensa paisagem.
No regresso à aldeia atente-se numa adega no meio do povoado que passa ao olhar distraído, por uma tradicional fonte de mergulho.
Retomando o CM 1126, após 3 km chega-se a Vila Chã de Braciosa, povoação que faz jus ao seu topónimo com a absoluta planura da sua implantação. Junto à Capela de Santa Cruz, curiosa por constituir a sua fachada integralmente no costão, alpendrado como se fora uma casa de habitação, com portas e janelas de molduras barrocas, tem o início o povoado e bifurca a estrada para Picote e para Duas Igrejas.
A população de Vila Chã de Braciosa utiliza ainda hoje o Mirandês para contar histórias, para cantar e dançar à volta da fogueira das festas pré-cristãs, sobre os trabalhos agrícolas, entre outros. Diogo de Teive (1514 -1565) escritor português quinhentista, foi uma das personalidades que marcou a História de Vila Chã de Braciosa, em virtude de ter sido abade da mesma. Esteve ligado ao círculo de humanistas do reinado de D. João lll.
A igreja tem uma torre sineira que é única no concelho. Cá fora, no afloramento encostado ao muro do cemitério, abre-se uma sepultura cavada na rocha. Esta igreja, o adro e o antigo cemitério são classificados como Imóveis de Interesse Público.
Continue para Picote e aí chegado, tem a aguardá-lo, no largo da terra, uma escultura zoomórfica à qual falta a cabeça, toscamente talhada em pedra. É um berrão da proto-história achado nas redondezas e que testemunha um antiquíssimo culto comum a toda a região transmontana.
No fundo do povo há indicação que o leva ao miradouro da Fraga do Puio (em mirandês Peinha de L Puio), de onde desfruta mais uma excecional vista sobre o Douro e onde a mão laboriosa do homem, apesar das agruras da natureza, consegue ainda repovoar de oliveiras, surribando caldeiras para as poder segurar.
A fauna do Parque Natural do Douro Internacional tem em Picote um dos seus setores mais valiosos incluindo um mosaico de habitats entre arribas e planaltos que proporciona a existência de mais de 200 espécies de vertebrados, entre as quais 150 aves. De entre estas destacam-se as aves rupícolas, que utilizam os escarpados rochosos como refúgio de nidificação.
Estando em Picote desça ao Barrocal do Douro e à barragem hidroelétrica, classificados com conjunto de interesse público, que bem justificam uma visita guiada a solicitar à EDP. Onde é hoje a aldeia de Barrrocal do Douro foi projetada e construída, há mais de 50 anos e a partir do nada, “uma cidade ideal” onde não faltaram um cineteatro com salão de festas, piscinas e centro comercial. Ainda hoje aqui merecem apreço vários exemplares notáveis de arquitetura moderna.
Na volta retome a estrada e percorrendo o maior montado de sobro da Terra Fria, chegará a Sendim.