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Caraterização Física
O território da Terra Fria do Nordeste Transmontano (TFT), integrado na periferia da Meseta Ibérica, num maciço de formação muito antiga basicamente constituído por xistos e granitos, apresenta duas facies genericamente ajustadas às regiões que a nascente e a poente se desenvolvem a partir do alinhamento orográfico das serras da Nogueira e Montesinho - a primeira, vasta e planáltica, abrangendo em grande parte a bacia hidrográfica do Sabor, seu afluente e a segunda, com relevo acentuado, percorrida pelas correntes do Tuela e do Rabaçal, que se precipitam no Tua e este no Douro. As serras de Sanabria e da Culebra, na sua envolvente galaico-leonesa, alimentam estes cursos e garantem a fecundidade dos lameiros dos vales profundos, em contraste extremo com a aridez das encostas e a secura do planalto.
As formações geológicas e a sua evolução condicionaram o perfil morfológico fortemente orientado pela fluência da rede hidrográfica, cujas linhas principais, subsidiárias do Douro, se apresentam genericamente orientadas de norte a sul, definindo vales encaixados paralelos, com interflúvios (zonas entre rios) aplanados a nascente do festo Nogueira-Montesinho e mais acidentados a poente deste.
O território situa-se praticamente entre os 400 e os 1000m. Abaixo dos 400m de altitude encontra-se o vale da Ribeira do Mondego, junto à confluência com o rio Sabor e os talvegues dos rios Rabaçal, Tuela, Sabor e Maçãs nos troços inferiores dos respetivos cursos na TFT. Acima dos 1000m, situam-se as serras da Coroa, da Nogueira e de Montesinho. Na faixa dos 700 aos 1000m destacam-se as superfícies planálticas dos concelhos de Miranda do Douro, Mogadouro e Bragança, nomeadamente o Planalto Mirandês, o Planalto de Deilão, as plataformas de Grijó de Parada a Quintela de Lampaças e a definida pela ribeira de Penacal e o rio Fervença que se prolonga até Bragança. No concelho de Vinhais, apesar do relevo substancialmente mais acidentado, distinguem-se, ainda neste escalão altimétrico, embora com menor expressão, as plataformas nos interflúvios das linhas de água. O escalão dos 200 aos 700m corresponde essencialmente aos vales dos cursos de água englobando maioritariamente os concelhos de Vimioso e Mogadouro. Nesta faixa altimétrica merecem especial destaque pelas suas dimensões, o vale superior do rio Sabor que ao receber os seus afluentes Fervença, Baçal, Igrejas e Onor define, a NW de Bragança, a superfície abatida da Baixa Lombada e, no concelho de Vimioso, os interflúvios Sabor, Maçãs e Angueira de feição planáltica. O vale mais profundo corresponde ao vale da Ribeira do Medal, junto à confluência com o rio Sabor, na freguesia de Meirinhos, concelho de Mogadouro.
O rio Douro estabelece a fronteira oriental desta região. O seu troço internacional já profundamente encaixado, inicia-se em Paradela, com as águas de um Douro rejuvenescido à cota 550m. Pouco mais de 10km a jusante, na Barragem de Miranda, já desceu 50m, atingindo os 400m de altitude na albufeira da Bemposta, já em terras de Mogadouro. Entre Paradela e a Bemposta, o seu caminho estreito estende-se de 200 a 300m abaixo do planalto, de onde se não vislumbra. Apenas sobre a escarpa abrupta que lhe define o percurso em canhão, se podem observar as águas, outrora revoltas, que a sucessão de barragens amansou. O rio segue, quer em troços quase retilíneos, quer em meandros apertados, entre arribas graníticas, próximo da vertical, especialmente impressionantes perto de Aldeia Nova, em Miranda e no Picote, a segunda das barragens portuguesas do Douro Internacional.
As bacias hidrográficas de dois afluentes principais da margem direita do Douro, ocupam a maior parte da Terra Fria Transmontana. São eles, de nascente para poente, o Sabor e o Tua, aqui ainda dividido pelos dois rios que o formam – o Tuela e o Rabaçal. Uma linha de festo aproximadamente meridiana separa as duas bacias, começando no topo da Serra de Montesinho, ligando-se ao da Nogueira e continuando pelos contrafortes meridionais desta serra. A norte, a separação de águas faz-se pouco adentro de território espanhol, de modo que estas bacias são quase integralmente portuguesas.
Como afluentes diretos do Douro no seu percurso na TFT citam-se o rio Fresno e a ribeira de Duas Igrejas, que se desenvolvem no planalto mirandês.
A maior parte do território da TFT insere-se na bacia do Sabor. O encontro com o Fervença, seu afluente da margem direita, separa o Alto Sabor (troço em que o rio drena as águas provenientes das terras mais elevadas do território) do restante percurso, em canhão, até abandonar a zona, quando recebe na margem esquerda o Maçãs.
Paralelo ao Sabor, o Maçãs é o seu maior afluente – por terras de Rio de Onor estabelecendo a fronteira com Espanha (onde nasce perto dos 1000m de altitude) e da Alta Lombada (descendo de cerca dos 650 aos 500m em pouco mais de 20km). Já inteiramente português, e mais declivoso do que o seu recetor, é alimentado por uma bacia estreita e longa, com cumeadas raramente superando os 700m. Perto da foz recebe o contributo do Angueira – a mais oriental das ravinas que sulcam o território de norte a sul e drenam para o Sabor.
O rio Angueira corre em leito mais elevado e inclinado do que os daqueles de que é afluente, com as cumeadas mais elevadas a oriente onde, no centro do Planalto Mirandês, se dividem as águas entre o Douro e o Sabor.
Os rios da região são elementos estruturantes da paisagem. Porque são uma fronteira natural entre blocos do território, pelos valores que abrigam nas suas vertentes, no estreito fundo dos seus vales ou nas suas águas que correm frias da montanha até ao planalto – os rios condicionam as atividades humanas, asseguram recursos, acrescentam diversidade e ritmo à rígida monotonia das formas esculpidas neste solo antigo. São por isso um recurso tanto mais estimável quanto é aqui, na Terra Fria, que se forma a quase totalidade dos recursos hídricos superficiais do Nordeste Transmontano.
A fisiografia influencia de modo marcado, não apenas o conjunto de carateres de ordem climática referidos, mas também, e fundamentalmente, a sua distribuição espacial. Em suma, é pois dos Climas da TFT que se trata, e não do seu Clima. Climas, porque a diversidade térmica é importante, como também o é a pluviométrica, com precipitações de mais de 1100mm anuais na Alta Montanha nevoenta de Montesinho a menos de 600mm nas terras frias, secas e continentais junto ao Douro.
Os estreitos vales do Tuela, do Sabor e do Maçãs, devido à sua orientação norte–sul, estão mais expostos à insolação, manifestando, por isso, características mais próximas das da Terra Quente, possuindo micro-climas com vegetação de características mediterrânicas. O mesmo sucede nos vales encaixados do Douro.
Entre estes extremos estende-se, dominante, a Terra Fria de Planalto, muito húmida em Vinhais, bem menos e já com significativas faixas de transição de Bragança a Vimioso, e onde definitivamente se impõe o clima rigoroso das Terras de Miranda, que se prolonga até aos cumes da serra de Mogadouro, entre as bacias do Sabor e do Douro.
Estes “Climas”, que na disposição dos relevos se justificam, modelaram por sua vez as paisagens - e o que delas o Homem fez, na avisada interpretação da Natureza que a escassez de recursos sempre impõe. Daí a incontornável sujeição dos lugares ao tempo e ao clima, conferindo notável acerto à distribuição espacial dos ecossistemas, das culturas e sistemas culturais, e das práticas e atividades que lhes estão associadas. Assim, o revestimento vegetal depende do clima, do relevo e do solo, embora as associações vegetais sejam reflexo da intervenção humana, que altera a morfologia do solo e integra e associa espécies, criando paisagens com outras arquiteturas.
É uma região marcada por prados permanentes (lameiros), grandes extensões de carvalho negral, magníficos soutos de castanheiros e searas de trigo e centeio. Está ainda desesperadamente presa a uma agricultura atávica e de subsistência, que o rigoroso clima de verões quentes e secos e invernos frios e chuvosos, escarmenta e desengana. Como se diz na cultura popular “nove meses de inverno e três de inferno”. Nos meses de inverno a neve, que transforma a paisagem tornando-a difusa e monocromática, ocorre frequentemente na serra de Montesinho, nas zonas de maior altitude, acima de 1200/1300 metros, existindo também condições para a sua formação nas terras altas de cotas a partir dos 1000 metros.
A Terra Fria do Nordeste Transmontano é uma área dominada por relevos suaves, separados por vales encaixados, com uma paisagem exuberante de montanhas e relevos aplanados, com uma policultura agrícola por entre espaços florestais. As condições peculiares do solo e do clima, associadas a uma sábia ocupação humana, conduziram a uma paisagem extremamente rica e diversificada, bem visível na estabilidade dos seus vales e nos imensos carvalhais, soutos e castinçais.
A poente do festo Nogueira-Montesinho, o ritmo cromático da paisagem é dado sobretudo pelas espécies caducifólias, que no outono pigmentam os cenários com cores vivas e quentes, em contraste com o verde das resinosas. A nascente, este ritmo é conseguido com a vinha e, fundamentalmente, com as culturas cerealíferas que no inverno apresentam cores frias e vivas e de verão, cores quentes de tonalidades esbatidas.
No meio de todo este mosaico policultural, o homem tem conseguido manter uma integração relativamente harmoniosa em relação ao meio ambiente que o rodeia, usando os recursos naturais de uma forma sustentada. Deste ordenamento do território, resultaram aglomerados rurais concentrados que ponteiam de uma forma dispersa o território. Inserem-se no meio de uma grande variedade de coberto vegetal, em que se mesclam carvalhais, soutos, olivais, amendoais, pomares, hortas, matos, culturas de sequeiro e pastagens entre galerias ripícolas de pequenos cursos de água.
O xisto é a rocha dominante, razão pela qual é o principal material de construção. No entanto, ocorrem também granitos, rochas ultrabásicas e, muito localizadamente, calcários. De particular interesse na leitura da paisagem de algumas zonas do território da TFT, são os afloramentos quartzíticos, que irrompem do solo. Salientam-se, neste caso, as cristas quartzíticas de Penhas Juntas que se desenvolvem desde Sandim ao limite sul da freguesia de Celas.
Neste território é possível identificar unidades de paisagem homogénea de características muito diferentes entre si, entre as quais se destacam as que seguidamente se definem.
Nos escalões de cotas altimétricas mais elevadas (superiores a 1000 metros) das serras de Montesinho e Coroa predominam as pastagens naturais de altitude. É sobretudo nestas zonas que nos meses de inverno neva regularmente, revestindo-se a paisagem de um manto branco.
Nas zonas com altimetria média e alta da Lomba, Baceiro, Trasmonte e Vinhais ocorrem grandes áreas de castanheiro, carvalhos e de outras folhosas, pinheiros e mais resinosas e uma fraca expressão de vinha.
Em Onor, Deilão, e nas Terras de Bragança e de Miranda, com exceção do vale do rio Maçãs e da faixa marginal ao rio Douro predominam as culturas arvenses, os soutos e os cercais de carvalho negral e nas zonas de várzea, choupais, salgueirais e freixiais. Em Deilão e Onor, tem-se também, atualmente, uma forte expressão de povoamentos florestais de resinosas, com algumas manchas de carvalhos caducifólios, de sobreiros e de azinheiras.
Na Terra de Bragança predominam os castanheiros, sendo também expressivo o povoamento de carvalhos. No planalto de Miranda, para além da azinheira, do sobreiro e, pontualmente, da vinha, são expressivos os povoamentos de pinheiro, de freixo e de zimbro.
A paisagem no Alto Sabor, apresenta uma pequena área florestal, com resinosas e ainda sobreiro, azinheira e carvalho negral. Em Lampaças e Algoso, a vinha e o olival ganham expressão, ocorrendo também alguns montados de sobro, azinho, eucaliptais e povoamentos novos de cedros.
Ainda influenciado pela Terra Quente Transmontana, o Vale do Sabor apresenta a jusante uma paisagem policultural, com uma forte expressão do olival e do amendoal. Com as mesmas características, no Vale do Rio Tuela, a jusante da inserção da ribeira de Ervedosa, predominam a azinheira, a oliveira e a vinha. Para montante, os vales encaixados do Tuela e seus subsidiários são enquadrados por uma vegetação ripícola bastante desenvolvida com bosquetes de carvalhos e castanheiros.
Os rudes condicionamentos da Natureza criaram nesta região uma das maiores e melhores reservas ecológicas do País, justificando a delimitação dos Parques Naturais de Montesinho e do Douro Internacional e de zonas protegidas de particular interesse florístico e faunístico. Como é evidente, os ecossistemas naturais não se limitam às áreas protegidas, sendo possível a observação das espécies identificadas fora dos limites das áreas classificadas, em especial onde a pressão humana é menor e na proximidade das linhas de água. Registam-se na TFT áreas integradas na Rede Nacional de Áreas Protegidas – Parques Naturais e Rede Natura 2000 que, naturalmente, podem apresentar sobreposições territoriais.
Também integrada na Rede Natura 2000, em Zona de Proteção Especial, salientam-se os Rios Sabor e Maçãs. O Vale do Rio Sabor e Maçãs carateriza-se por possuir galerias ripícolas em bom estado de conservação. As condições edafoclimáticas e morfológicas, refletidas em vales encaixados e vertentes abruptas, proporcionam o desenvolvimento de várias espécies vegetais e animais. Destacam-se, pelo seu estado de conservação e por serem endémicas, as comunidades de Buxo (Buxus sempervirens) e as comunidades ripícolas de Petrorragia (Petrorhagia) e Saxifraga (Saxifragaceae). Este Sítio é importante para a conservação da fauna associada ao meio aquático, em particular a recuperação das populações de lagostim-de-patas-brancas (Austropotamobius pallipes). A área alberga três espécies de mamíferos constantes do Anexo II da Diretiva Habitats – o lobo ibérico, a lontra e a toupeira-de-água.
Da lista Nacional de Sítios da Rede Natura (Resolução de Conselho de Ministros n.º 142/97, de 28 de agosto) – Montesinho/Nogueira, Rios Sabor e Maçãs, Douro Internacional, Samil, Monte Morais e Minas de St.º Adrião.
As Minas de Santo Adrião localizam-se na maior área de calcários do norte de Portugal, o que lhe confere características particulares e contribui para a sustentação de espécies endémicas. Neste local desenvolve-se um azinhal sobre calcários, em bom estado de conservação e um extenso sobreiral, assim como cinco espécies de plantas vasculares que, em Portugal, apenas nesta área se conhecem. Contudo, a classificação deste Sítio justifica-se sobretudo para a conservação dos Quirópteros. Para além de colónias importantes de espécies de morcegos, abriga uma colónia de criação de morcego-rato-pequeno (Myotis blythii), espécie considerada “em perigo”.
A abundância de recursos naturais da TFT proporciona o desenvolvimento de atividades cinegéticas como a caça e a pesca. Existem na região várias Associações de Caça e Pesca, assim como Zonas de Caça Associativas (Z.C.A.) e Municipais (Z.C.M.).
O elevado valor cinegético da TFT constata-se pela ocupação de cerca de 37% do território por zonas de caça. Estas zonas de caça distribuem-se do seguinte modo pelos cinco concelhos: 47 em Bragança, 33 em Mogadouro, 33 em Vinhais, 26 em Miranda do Douro e 21 em Vimioso.
Para além da caça à perdiz, ao tordo, ao pato, ao coelho e à lebre, das batidas e montarias ao javali e à raposa, pratica-se ainda a pesca à truta, ao barbo, à boga, à carpa e ao escalo, sendo as trutas do rio Tuela muito apreciadas. Em alguns rios desta região ainda é possível ao pescador observar os peixes que vai pescar.